sábado, 5 de julho de 2008

Companheiros na dubiedade

Por Paulo Saab
Embora a linha ideológica adotada pelo Itamaraty no governo petista tenha sempre resposta para tudo, é de se perguntar sobre os motivos que levaram o Brasil a adotar uma posição dúbia em relação à existência e aos atos das chamadas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia , as Farc . A pacífica libertação, em ação de inteligência e não belicosa do governo da Colômbia, que culminou com a libertação da senadora Ingrid Betancourt, ex-candidata à presidência daquele país, após seis anos de seqüestro, demandou mais de 4 horas de estudos internos no governo brasileiro para a edição de uma nota oficial saudando a libertação, sem condenar a ação terrorista do conhecido grupo de narcotraficantes armados incrustados na selva colombiana, próximos da fronteira com o Brasil. A relação do governo brasileiro com grupos infratores internacionais é afrontosamente dúbia.

No plano interno, as ações criminosas de alguns movimentos ditos sociais são, além de toleradas, contempladas com verbas oficiais. No plano externo, a começar pelo antigo namoro com o hoje aposentado ditador Fidel Castro, de Cuba - cujas origens são conhecidas -, e a leniência com a presença de terroristas traficantes armados na fronteira com o Brasil, indicam claramente simpatia pela ação criminosa.

Há quem afirme de maneira ostensiva que a raiz desta atitude é a linha socialista que embasa a ação do Itamaraty, a partir da forte influência de seu Secretário Executivo (espécie de vice-ministro), o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, notório apóstolo da condição terceiro-mundista do Brasil. As patrulhas ideológicas irão bradar contra essa opinião, para evitar que a verdade seja dita, pois isso incomoda aos encastelados que usam o poder em favor de suas ideologias. Paciência.

Esse tipo de dubiedade, dizendo-sem-dizer, ocultando o objetivo, tem pautado as relações com grupos criminosos, deixando a posição do governo brasileiro em situação indefinida. No fundo sabe-se tudo e o oculto é claro. Poucos, todavia, inclusive na mídia brasileira, têm coragem de dizer. A libertação da franco-colombiana fortalece a linha de ação do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, hostilizado por seus vizinhos da Venezuela e da Bolívia e, não só por coincidência, apenas formalmente tolerado por Brasília.

Por estar distante da linha terceiro-mundista de exaltação ao socialismo e por estar, ao contrário, aos poucos, devolvendo a Colômbia à sua real dimensão, o presidente Uribe tem sido voz isolada na América do Sul, inclusive porque os governos citados - mais o Equador e em menor dimensão o Chile - sentem-se incomodados com o apoio que o país recebe dos Estados Unidos. Falar mal dos ianques no sul das Américas é moda. E nisso, Bush sempre ajudou.

Adubiedade ideológica brasileira, aparente, decorre da forte influência que as viúvas do socialismo - hoje sentadas em importantes cadeiras do Planalto - exercem sobre o presidente Lula. Este, cada vez mais claro em seu pragmatismo e desejo de poder, manipula aqui e ali diversidade ideológica ao seu redor, em benefício de seu fortalecimento pessoal.

Quem poderia hoje afirmar com precisão que o governo do presidente Lula é de esquerda? Socialista ? Os banqueiros riem à toa, e o apóiam. Quem poderia afirmar com precisão que o governo do presidente Lula é liberal e age de acordo com as regras do mercado, voltado para o desenvolvimento das forças produtivas? Os bilhões, destinados a manter na miséria quem depende das bolsas do governo, sem jamais deixar a condição de dependente, garantem o quê?

Muitas outras perguntas poderiam ser feitas e as respostas dariam sempre a mesma sensação de dubiedade, de que (in)define sua gestão no terreno político-ideológico. Para muitos, muitos e muitos de seus ex-colaboradores ou ainda colaboradores, a verdadeira ideologia (as denúncias diárias mostram) está no chamado vil metal .
Paulo Saab
Diário do Comércio

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