segunda-feira, 30 de junho de 2008

Noel Villas Bôas, considera o vídeo do seu pai fora de contexto

Em uma carta(abaixo) enviada a alguns órgãos de imprensa, supostamente escrita por Noel, filho do Orlando Villas Boas, ele discorda da exibição do vídeo de seu pai e o coloca em dissonância com a afirmação dos que hoje contestam a demarcação das terras indígenas, e praticamente afirma que Orlando Villas Boas defendia terras contínuas para os índios formando um novo país.

Aparentemente, é exatamente isto o que o filho de Orlando diz. Porém no vídeo é muito clara a preocupação e a discordância do Orlando em relação a emancipação dos territórios indígenas.

Noel, de certa forma, faz uma acusação de traição a memória de seu pai. Isso soa com muita estranheza, pois nem o gen. Lessa, nem o gen. Heleno, nem nenhuma outra autoridade das forças armadas e até nem mesmo o representante dos "arrozeiros" e prefeito de Pacaraima, João Paulo Quartieiro, teriam expressado ser contra a criação de reservas indígenas. Eles, assim como toda a parte da sociedade que está ciente do problema, apoiam e reconhecem a necessidade de reservas à índios não aculturados. O que querem é um adiamento na criação de novas reservas até que se mudem as Leis que estão dando aos índios a propriedade dessas áreas e não o usufruto como era anteriormente, que não sejam em áreas de fronteira e contra a homologação da Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas. O único ponto divergente com a política do Orlando é em relação a questão de reservas em terras continuas ou em ilhas. De resto, toda a sociedade apoia a política do Orlando, que é a mesma do Marechal Rondon e que é a mesma das autoridades das Forças Armadas.
Quem quiser conferir assista a palestra do gen. Lessa no vídeo de 2,5 horas do Seminário "A realidade da Amazônia – Soberania ameaçada, farsa?', realizado em 10/06/2008 no clube Espéria em São Paulo

Quanto a política indigenista, vê-se também nessa entrevista abaixo, na revista Época de Jan/2000, que a política defendida pelo Orlando em nada diverge da política defendida pelo gen. Lesa, Heleno, Rondon e outros.

Fica agora uma interrogação quanto ao motivo dessa manifestação.

Época: A sua avaliação sobre o futuro da população indígena é otimista?
Villas Bôas: Depende muito da política da Funai. Acho que deve haver uma política de vigilância. Não sou contrário a que o índio participe da sociedade nacional. Acho que o destino é esse, mas a opção deve ser dele. Nós defendemos uma política na qual o índio só sobrevive em sua própria cultura.

Época: Isso significa que a tutela do Estado deve prosseguir?
Villas Bôas: Acho que a tutela deve existir com o objetivo de preservar a área indígena, a saúde do índio, sem a preocupação de que ele se transforme num civilizado. Mas nem sempre aqueles que representam nossa sociedade e entram em contato com o índio pensam dessa forma. Acham que o nativo deve participar e virar um civilizado.
Revista Época

Noel Villas Bôas, considera o vídeo do seu pai fora de contexto
“Muito oportuno lembrar as palavras de meu pai, Orlando Villas Bôas, nesse período agitado da política indigenista. No entanto, é preciso fazer um esclarecimento. O trecho da entrevista feita pela jornalista Paula Saldanha, que tem sido divulgado na Internet, está deslocado do contexto original que lhe dá sentido. A verdadeira preocupação de meu pai, manifesta nessa entrevista, era com relação às inúmeras ONGs de caráter duvidoso que estavam (e estão) atuando em território indígena assumindo prerrogativas da FUNAI. A problemática indígena é questão que se refere somente à competência do Estado.Pensar que o sertanista Orlando Villas Bôas poderia ser contra a demarcação da reserva Ianomâmi beira o absurdo. É aconselhável lembrar a política dos Irmãos Villas Bôas, qual seja, a da demarcação de grandes reservas indígenas. A primeira grande reserva indígena brasileira, o Parque Indígena do Xingu, foi criada pelo Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas com apoio de grandes nomes como Noel Nutels e marechal Rondon, dentre outros. Aliás, foi a bem sucedida experiência do Xingu que desencadeou todo o processo das grandes demarcações que aconteceram depois.Por fim, interpretar este trecho de entrevista de um minuto e meio como uma postura semelhante àquela do Gen. Heleno ou, mais recentemente, à do general Luiz Gonzaga Lessa implica invariavelmente no total desconhecimento da política dos Villas Bôas ou interpretação equivocada das palavras de Orlando Villas Bôas que via o desrespeito às terras indígenas como causa da desagregação tribal levando inevitavelmente à perda da cultura desses povos. Cabe lembrar que a palestra do Gen. Gonzaga Lessa revelou uma postura diametralmente oposta àquela defendida pelos Villas Bôas no que diz respeito a: política indigenista, graus de aculturação dos povos indígenas brasileiros, território indígena e respeito à cultura desses povos. A integração rápida e forçada, sugerida pelo general nunca foi opção para a política indigenista de Orlando e seus irmãos. Aliás, postura semelhante à do Gen. Lessa foi energicamente combatida pelos irmãos Villas Bôas, na década de 1970, quanto o Gen. Oscar Jerônimo Bandeira de Mello, na presidência da FUNAI, defendia a integração forçada do índio à nossa sociedade atendendo, na época, a política de integração nacional do Presidente Médici”.

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Um comentário:

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado