A política externa brasileira, nos dois mandatos do presidente Lula, tem sido marcada por tentativas de abrir uma diplomacia terceiro-mundista pouco clara e um tanto oportunista. Em alguns casos, essa estratégia parece se apoiar na generosidade com alguns países pobres. E quando alguém vê nessa atitude uma pretensão hegemônica, o governo nega.
Um exemplo dessa generosidade foi a "guerra do gás" com a Bolívia, em que o presidente Evo Morales nacionalizou as instalações da Petrobras, em 1º de maio de 2006, sem prometer compensações. Na ocasião, Lula chegou a afirmar que uma reação firme à conduta boliviana seria "covardia", dada a diferença de forças entre as partes.
Chávez – O caso da Venezuela se mistura com o da Colômbia. O presidente Hugo Chávez foi o primeiro a desafiar a suposta tentativa hegemônica de Lula no Continente. Aparentemente, Lula recuou dessa pretensão, se é que a tinha, e Chávez atribuiu-se o título de defensor da independência sul-americana em relação aos Estados Unidos e de "inimigo número 1 do Império" (os EUA). Nesse ponto, o Itamaraty parece prudente, pois assume uma posição equilibrada ante os EUA.
A questão é mais séria porque fontes americanas e colombianas insistem em que Chávez dá apoio às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), acusação que o presidente venezuelano nega. Agredida há tempos pela guerrilha, a Colômbia aceitou a sugestão de Washington de colaborar no combate a esses adversários. A presença americana em sete bases militares nesse país para combater guerrilheiros e narcotraficantes foi mal recebida pelos vizinhos colombianos. Em decorrência, esse país ficou politicamente isolado no Continente.
Ahmadinejad com Lula - Irã estaria usando a Venezuela de Chávez para ingressar no Continente.
Irã – Quanto ao Irã, a posição brasileira parece destinada a obter apoio à pretensão de ganhar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Lula se avistou com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad por três vezes, a última em novembro, em Brasília. Indagado sobre o polêmico programa nuclear iraniano - que supostamente teria caráter agressivo -, Lula respondeu apenas que o Brasil não se opõe ao uso pacífico dessa energia.
Abrigo – O caso menos grave, mas quase anedótico, envolve a presença do ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya na embaixada brasileira em Tegucigalpa. O conservador Zelaya caiu em desgraça ao se aproximar de Chávez, colocando Honduras na Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), a contrapartida do presidente venezuelano à mal-sucedida Área de Livre Comércio das Américas (Alca), proposta pelos EUA em 1994. Zelaya foi derrubado em 28 de junho. E no dia 21 de setembro, ele pediu abrigo na embaixada do Brasil. É uma situação inusitada, pois ninguém pediu asilo formal. O Itamaraty quer que Zelaya seja reconduzido ao poder.
Ao mesmo tempo, o Brasil tem sido acusado de votar no Conselho de Direitos Humanos da ONU ao lado de governos acusados de violações. Em 2006, o País se absteve de votar uma resolução que pedia a investigação de abusos e mortes no Sudão, e ajudou a aprovar uma moção mais branda, com elogios ao governo de Omar al-Bashir. Este teve a prisão ordenada pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.
O País também se alinhou ao Congo e Coréia do Norte, em 2009, em outras votações do Conselho, e ficou de fora do tratado da ONU que proíbe o uso e a fabricação de bombas de fragmentação. E o Brasil preferiu apoiar o homem que negou o Holocausto e ameaçou queimar livros em hebraico, Farouk Hosni, ex-ministro da Cultura do Egito, para o cargo de diretor-geral da Unesco, no lugar do brasileiro Márcio Barbosa, que tinha uma vitória praticamente certa, se recebesse o aval para se candidatar. A justificativa foi a "aproximação com o mundo árabe".
Diário do Comércio
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário