Por Graça Salgueiro
É curioso como se passam as coisas aqui no Brasil. Até meados do ano passado, encontrar uma notícia por mais minúscula que fosse nos jornais de grande circulação falando sobre as FARC ou o Foro de São Paulo, era algo tão plausível quanto colher bananas em uma jaqueira. Depois que Chávez começou com o circo macabro das “trocas humanitárias”, todo dia saía uma notícia, uma denúncia e pela internet então, choviam pps mostrando a realidade cotidiana do povo colombiano farto do terrorismo das FARC e ELN mas que ninguém no Brasil se importava em saber, afinal, nós “não temos” terroristas, como alegou Herrrrr Tarso Genro. A partir daí, como se fosse uma revelação divina, vários jornalistas de esquerda que criminosamente ocultaram estas informações por décadas do leitor brasileiro, notadamente com relação ao Foro de São Paulo do qual as FARC são membros e cujos fundadores são Lula e Fidel, de repente resolveram falar no assunto porque agora esta organização comunista (FSP) não oferece mais risco, pois já está consolidada com 9 presidentes eleitos democraticamente na América Latina.
Depois que Chávez e Correa romperam relações diplomáticas com a Colômbia e o bufão de Miraflores ameaçava um guerra, até a “Rede Pravda de Televisão” (Ooops! Rede Globo) noticiou os fatos. Com o fim da farsa e o reatamento das relações entre Colômbia, Equador e Venezuela, os jornais aos poucos vão jogando no limbo o assunto outra vez, até que desapareça da memória do povo completamente. O que os “companheiros de viagem” queriam divulgar era a “magnanimidade” de Chávez e a periculosidade de Uribe, que sem piedade massacrou pessoas indefesas enquanto dormiam num modesto acampamento de jovens escoteiros, com o auxílio do belicoso império, claro. E não se fala mais nisso; os colombianos que se virem porque o problema “é deles”, como me dizem há quase 10 anos.
Na edição de ontem eu insinuei (porque há tempo havia recebido informações que levavam a crer) que a senadora colombiana, Piedad Córdoba, pleiteava candidatar-se à presidência da Colômbia em 2010 e que teria apoio das FARC. Hoje o Notalatina confirma, através de mais mensagens encontradas nos computadores de Raúl Reyes que me chegaram ontem à noite. Há, além desta informação, outras muito graves que são confissões de culpa de crimes cometidos e negados perante o governo Uribe, além de evidências comprometedoras do envolvimento deste bando terrorista com os governos da Venezuela e Equador, e uma revelação surpreendente de um “colaborador” que não vou dizer o nome; leiam até o final para descobrir quem é. Como não estão em ordem cronológica, escolhi aquelas mais relevantes que seguem com comentários meus.
Fiquem com Deus e até a próxima!
Seis dias depois do atentado ao clube “El Nogal” de Bogotá, reiteradamente desmentido, Raúl Reyes escreve ao Secretariado sobre o “formidável ataque ao El Nogal” no qual morreram 36 pessoas e 100 ficaram feridas. Com esta mensagem não resta mais nenhuma dúvida da autoria do crime por parte das FARC.
13 de fevereiro de 2003
Camaradas do Secretariado. Vai minha saudação comunista.
Adiciono análise da nota recebida de Lozano. Acho acertada nossa análise quanto ao evidente desespero de Uribe e da cúpula militar, pela ausência de resultados e das crescentes pressões... Considero pertinente de nossa parte estudar a conveniência política de negar responsabilidade na formidável ação sobre El Nogal, para fazer crer ao Estado, ao governo e aos gringos maiores contradições internas aproveitando que os serviços de inteligência não foram capazes de deter ninguém, nem possuem outras provas contra as FARC. É tudo.
Um abraço. Raúl.
Quize dias depois do assasinato de Liliana, irmã do ex-presidente César Gaviria Trujillo, Manuel Marulanda ‘Tirofijo’, que se identifica com as siglas JE, reconhece que foram as FARC que cometeram o crime.
13 de maio de 2006
Camaradas do Secretariado: Saúdo-os cordialmente e ao mesmo tempo para comentar-lhes o seguinte:
A proposta de fazer um comunicado relacionado com a morte da irmã do ex-presidente Gaviria é bom, porém não estou em antecedente para dar opiniões. Só estou certo que o pleno de 2000 deixou como conclusão em seus planos o justiçamento de chefes políticos comprometidos na guerra contra o povo.
Sem mais, JE (‘Tirofijo’).
Quatro dias depois do crime contra os 11 deputados colombianos seqüestrados em 2002 e assassinados em 2007, que as FARC cinicamente disseram que foram “mortos em combate”, ‘Tirofijo’ escreve ao Secretariado para planejar o modo como vão informar o crime e “sair-se bem”.
22 de junho de 2007
Camaradas do Secretariado:
Creio que já tiveram a oportunidade de conhecer minhas opiniões enviadas ao camarada Alfonso span >>(Cano – um dos cabeças das FARC) com motivo do ocorrido para ver se entre todos conseguimos encontrar uma saída mais compreensível para o público e familiares, na qual morreram todos eles e se o segredo se mantém até o momento, me surgem duas propostas: a primeira é aprazar o comunicado por longo tempo até quando as duas partes estejam sentadas na mesa falando do tema do intercâmbio. A segunda, informar que a guarda dos prisioneiros desertou junto com eles e em sua perseguição por uma companhia caíram todos em meio do combate, cujos cadáveres estamos dispostos a entregar aos familiares (e foi exatamente isto que estes assassinos fizeram e a televisão mostrou), tendo em conta que os refrões dizem: “que estas são pisadas de afogado”. Porque os fatos são os fatos.
Confirmar a presença de operativos conjuntos exércitos-paras, etc. contra as FARC na região e de nossa parte mantendo o segredo inicial e ao mesmo tempo sustentando a versão de que uma força desconhecida assaltou o acampamento, onde mostremos o local da entrada e saída do grupo assaltante; nos salvamos, não importa o tipo de especialista em investigações. Isso quer dizer que se você, Alfonso, antes de permitir a entrada de comissões humanitárias para receber os restos dos deputados organiza e planeja tudo bem para efeito de investigações, sairemos bem livres apesar de semelhante campanha.
Seguem duas cartas: uma de Raúl e outra de Tirofijo, fazendo referência à Piedad Córdoba e ao “plano estratégico” que é a entrega de US$ 300 milhões por parte de Chávez às FARC, ambas no fim do ano passado. É nesta carta que o próprio Marulanda Tirofijo dá seu apoio à candidatura da Piedad Córdoba à presidência da República. Isto prova que as ligações entre Chávez e as FARC vão muito além de interesses “humanitários”.
23 de setembro de 2007
Camarada JE, camaradas do Secretariado: Saudação franternal.
Não tenho objeções e nem contribuições à nova carta do camarada para Chávez. De alta política chamá-lo para trabalhar em conjunto com as FARC.
Retifico minha proposta de delegar o camarada Iván Márquez para que em representação do Secretariado e acompanhado de Marco León ou Santrich, participe da entrevista clandestina com o presidente Chávez, com a missão de expor o plano estratégico...
Piedad me contou, pedindo nossa confidencialidade, que Chávez contribuiu para obras sociais em seu estado com 100 milhões. Se for assim, não seria descartável nós conseguirmos os 250 milhões do Plano.
Abraços Raúl.
20 de novembro de 2007
Camaradas Secretariado:
Saúdo-os cordialmente e ao mesmo tempo para o seguinte:
A informação enviada pelo camarada Iván M., assinalando os resultados do encontro na Venezuela com o presidente Chávez, Piedad e finalmente com Gabino são elementos indispensáveis de analisar por todo o Secretariado com suficiente atenção...
Em minha opinião, o objetivo fundamental consiste em melhorar e consolidar relações políticas e de boa vizinhança de acordo com as instruções e cisrcunstâncias do momento, a curto ou longo prazo; complemento ao Plano Estratégico se cumpriram no aspecto político e econômico com a contribuição de (300). Faltando estabelecer as condições se é um empréstimo ou por solidariedade, o que resolve um sério problema estratégico na luta contra a agressão gringa na cabeça de Uribe e à primeira vista dá a impressão que o homem está interessado em contribuir na causa bolivariana das FARC para conseguir fortalecer seu projeto geopolítico em vários países...
Agora vejamos a segunda parte relacionada com o intercâmbio humanitário... Creio que se conseguirmos e assim o espero, oxigenar o presidente Chávez o quanto antes possível com as provas de sobrevivência, vamos sair fortalecidos com sua ajuda independentemente se consiguimos ou não o intercâmbio.
Com respeito ao trabalho realizado por Piedad C. como facilitadora é importante e saudável por suas gestões e digno de ter em conta como aliada na luta para conseguir a liberdade dos prisioneiros de ambas as partes, inclusive Simón e Sonia, sem esquecer que ela é uma líder fiel ao partido liberal embora se o merece, anda buscando protagonismo e dividendos políticos para seu partido em uma futura campanha presidencial. Se ela na conveção liberal resultasse eleita como candidata de seu partido, teria a possibilidade de ser presidente da Colômbia com o nosso apoio. (...)
Na carta enviada por Piedad ao camarada Raúl, vejo esta mulher como amiga e trabalhadora pelo intercâmbio em união com o presidente Chávez, a quem adora profundamente, tem uma grande facilidade mental e de linguagem até para nomeá-la como chefe de aves de rapina aspirante à Presidência da República.
Como se pôde constatar, esta víbora comuna e moralmente desqualificada aproveita-se da miséria humana dos seqüestrados e de seus familiares debilitados emocionalmente, para impulsionar sua candidatura à presidência da Colômbia, com o falso argumento, também usado por Chávez e Correa, de “ajuda humanitária”.
E aqui a parte mais surpreendente. Não é nenhuma novidade que Gabriel García Márquez é comuna, que idolatra Fidel Castro (mas não quer morar na Ilha) e defende todos os projetos esquerdistas. Agora, que ele fez contato recentemente com o ELN e as FARC, para servir de intermediário entra as duas facções narco-terorristas, foi uma surpresa enorme. De fato, lembro de ter lido sobre a possibilidade desses dois bandos narco-terroristas se unirem num só, mas nunca acreditei que viesse a se concretizar pois nenhum deles iria querer perder suas posições de chefia e liderança na região. Vejam esta comunicação feita por Alfonso Cano, em agosto do ano passado.
23 de agosto de 2007
Camaradas do Secretariado. Minha saudação.
O ELN está muito interessado em terminar a guerra com as FARC e quer começar solicitando informação acerca de quais unidades do ELN estão aliadas com os paramilitares contra as FARC, para o Coce dar as instruções e ordens que possibilitem encerrar essas alianças. Apesar de que as conversações que o ELN teve com Iván Márquez, não foi (sic) muito fraterna nem fluida, o ELN quer que as FARC saibam que o ELN não será nunca martelo, nem aríete contra as FARC. Que o melhor que pode ocorrer é um caminho unido entre as duas organizações para uma negociação política.
Os democratas dos USA, na Colômbia, que antes estavam na Venezuela, dizem ter uma clara postura para uma negociação política com as FARC. García Márquez está encarregado dessa intermediação com as FARC por conta dos USA e estes querem que o Panamá seja o país através do qual se fale com as FARC. Para isso, García Márquez já transmitiu essa solicitação a Torrijos e este aceitou. Clinton disse a García Márquez, em Cartagena: “quero ter uma tarefa pessoal Quero ajudar a Colômbia. É preciso buscar um acordo com as FARC”. O senador McGovern disse a García Márquez que Bush quer fazer da Colômbia o que era a Alemanha Ocidental frente à Europa socialista e é preciso impedí-lo. Disse além disso que o analista político especialista em Colômbia dos democratas é Adam Isackson.
Alfonso Cano.
Comentários e traduções: Graça Salgueiro
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