A defesa pública da punição dos torturadores do regime militar, feita pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, na semana passada, não desagradou apenas às Forças Armadas. Setores do Palácio do Planalto e do governo também se irritaram com as declarações e reprovaram a conduta do ministro. A avaliação predominante na Esplanada dos Ministérios é de que o discurso da "responsabilização dos agentes públicos que praticaram violações dos direitos humanos" só está servindo para "constranger e criar problemas" para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No governo, quem mais se incomodou com a manifestação "inconveniente" de Tarso foi o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ele comentou no fim de semana com um interlocutor que já teve "de apagar incêndio dele (de Tarso) com o Judiciário" e agora surge a "provocação aos militares, sem avisar ninguém". Frisou que se via obrigado a contestar o colega de público, para contornar a crise. O embate com o Judiciário se deu por causa das críticas de Tarso ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, em razão dos seguidos habeas-corpus concedidos pela Justiça a presos em operações da Polícia Federal.
Depois do seminário promovido pelo ministro da Justiça, Jobim apressou-se em afirmar que "a análise dos fatos que estão sendo levantados por Tarso cabe exclusivamente ao Judiciário" e nada tem a ver com o Executivo. Jobim também atuou nos bastidores, procurando acalmar pessoalmente os comandantes das três Forças e agradou. Oficiais do Exército estão sendo convencidos de que há um "núcleo do governo que barra o revanchismo propalado pelo ministro da Justiça", mas nem assim está sendo fácil conter a revolta dos militares diante das declarações de Tarso.
O Estado de S. Paulo. (AE)
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