Caracas, 23 de setembro – Enquanto se escrevem estas linhas, uma das operações mais sofisticadas e perversas da história ibero-americana está sendo levada a cabo contra a Bolívia. Urge que todas as forças democráticas da região acorram em sua ajuda para evitar uma tragédia nesse país. Os fatos são os seguintes:
Em 10 de agosto de 2008 realizou-se um referendo que ratificou o mandato do presidente Evo Morales e da maioria dos prefeitos (governadores) opositores. Morales interpretou – ilegalmente – sua ratificação como uma carta branca para impor unilateralmente sua Constituição, de corte totalitário, e para desconhecer as autonomias departamentais (estaduais) que se haviam consquistado este mesmo ano, com o voto majoritário do povo boliviano.
Atentando contra a autonomia, Morales confiscou os benefícios provenientes do Imposto Direto dos Hidrocarbonetos (IDH), que correspondem às regiões, e anunciou uma consulta para referendar sua Constituição. Como era de se esperar, o povo saiu às ruas para protestar. Evo Morales ordenou reprimir os protestos, ocasionando numerosos mortos e feridos.
Sentindo-se encurralado pelos efeitos políticos do massacre, Morales pediu ajuda a seus aliados internacionais, particularmente Hugo Chávez, que ofereceu o envio de armas e tropas venezuelanas para sustentar militarmente o governo boliviano. Paralelamente, convocou-se uma reunião urgente da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), cujos integrantes – exceto um – pertencem ao Foro de São Paulo, organização política da qual Evo Morales também faz parte.
Os integrantes da UNASUL só escutaram a versão de Evo Morales, negando-se a receber os governadores opositores, apesar de que eles também foram ratificados pelo povo boliviano no mesmo dia que Morales. Em conseqüência, emitiram uma declaração parcializada, enviesada e fraudulenta, sobre a crise boliviana, culpando a oposição de tentar um golpe de Estado e de gerar violência, quando o verdadeiro culpado é Morales. Em resumo, outorgaram ao presidente boliviano uma licença para continuar matando e para impor seu projeto totalitário.
As mesas de diálogo que foram acordadas na reunião da UNASUL são uma farsa, porque obrigam a oposição a submeter-se aos desígnios do governo, sob pena de serem julgados como golpistas e/ou massacrados pelos grupos para-militares armados que se encontram em Cochabamba e Santa Cruz.
Uma mostra da parcialização e da injustiça existentes é o encarceramento do governador de Pando, Leopoldo Fernández, que foi acusado injustamente pelo governo das mortes ocorridas em seu estado, em que pese existirem inúmeras provas da responsabilidade do oficialismo nesses fatos. Tudo indica que quem ordenou a prisão de Fernández nem sequer foi Evo Moralaes, senão Hugo Chávez, que está intervindo flagrantemente nos assuntos internos da Bolívia.
A OEA tampouco garante uma mediação neutra, porque Chávez controla 21 dos 34 votos desse organismo multilateral. Insulza não se comporta como Secretário Geral da OEA, senão como candidato à presidência do Partido Socialista do Chile, organização que também pertence ao Foro de São Paulo. Quanto a Lula, mantém uma atitude aparentemente moderada, porém também exonera Evo Morales e culpa a oposição pelo ocorrido, o que não é de se estranhar, porque ele é o principal fundador do Foro de São Paulo.
O tratamento injusto e sem consideração que os aliados de Evo Morales – investidos como presidentes – dão à oposição boliviana não ajuda a resolver a crise, senão que a agrava, pondo mais lenha na fogueira. Por isso, urge constituir um Grupo de Amigos da Bolívia, conformado por cidadãos de toda a América, que sirva para contrabalançar a nefasta intervenção da UNASUL.
Fazemos um chamado a todas as forças democráticas da região a interessar-se pelo tema boliviano, a indagar qual é a realidade, a escutar todas as partes do conflito e a opor-se à ingerência indevida de Chávez e seus aliados nos assuntos internos da Bolívia.
Alejandro Peña Esclusa – Presidente de Fuerza Solidaria
Traduções: Graça Salgueiro - Notalatina
Enquanto isso...
o bloco comunista segue solidário.
Uma comissão de especialistas de todos os países que compõem a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) vai investigar a violação dos direitos humanos no departamento de Pando, na Bolívia. O grupo será constituído na segunda-feira (29) e será coordenado pelo subsecretário de Direitos Humanos da Argentina, Rodolfo Matarollo.
A decisão foi tomada hoje (24) em reunião da Unasul realizada na sede da Organização das Nações Unidas (ONU).
Durante as manifestações contra o governo do presidente da Bolívia, Evo Morales, 3 0 camponeses foram mortos em Pando, na fronteira com o Acre.
Evo Morales garantiu que o seu governo tem interesse em investigar as mortes. "O governo nacional estará esperando os delegados para essa investigação e dessa maneira esclarecer todos os acontecimentos na Bolívia", disse.
Ele ressaltou que o objetivo do governo é garantir a autonomia legal e constitucional no país. "Quem rechaça e não quer legalizar a aprovação da nova Constituição são os inimigos do povo, especialmente do movimento campesino indígena, que historicamente apostou em uma nova Constituição, buscando igualdade e justiça social", ressaltou.
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, disse que a Unasul vai continuar trabalhando em apoio à democracia na Bolívia (???).
Também participaram do encontro da Unasul os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; da Argentina, Cristina Kirschner, e do Paraguai, Fernando Lugo.
Agência Brasil - Portal Terra
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